domingo, 29 de junho de 2008

A realidade


Ao perder a mãe se sentiu vulnerável ao padrasto
que a olhava de uma forma diferente desde então.
Trazia consigo de criança a ingenuidade e bondade de uma menina do campo
Frágil como uma boneca de louça, buscou juntar seus pedaços após a surra que levou do senhor que vivera anos com a mãe.
Desamparada, acreditou em juras feitas por um homem mais velho, casado e com filhos.
E aproveitando um descuido do padrasto colocou meia dúzia de roupas na bolsa e partiu rumo a cidade grande.
Assim me disse Carlinhos pelo messenger essa tarde.
Segundo ela, iria trabalhar como empregada da família para não levantar suspeitas.
Sem julgar a atitude da pobre, Carlinhos indagou sobre um livro que estava escrevendo
e disse ainda que sua história estaria entre as outras que colecionava pelo caminho.
Feliz, a garota agradeceu Carlos com um beijo em cada lado do rosto, e esperançosa lhe pediu que desse a ela um final feliz no livro.
E pelo saguão do aeroporto a menina seguiu rumo a um final.
A realidade é assustadora.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

A noite passada


O aroma no ar indicava que o café acabara de ser feito
Papéis pelo chão expunham esboços de um nu feminino
As grandes janelas do apartamento permitiam a entrada da luz.
Ao enxaguar o rosto lá estava ele
Olhando para o pobre de uma forma intensa
Ambos não estavam felizes
e ao olhar para boxe se deparou com sinais de luta
Mal conseguia andar com tantos cacos penetrando a sola de seus pés
Instintos primitivos vieram a tona na noite passada
então buscou por ela novamente
E sua frieza o assustou ao vê-la
Qual seria o verdadeiro sentido da vida?
Ela nunca descobriu.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ruínas da memória


Dizeres sem nexo
Existencial sem sentido
Desvanecido, acompanha as ruínas da memória
agarrá-las é impossível
Saudade de um tempo que não voltará
Fingiste que não escutara? Pois bem...
Num estalar de dedos, despertou.
Se pôs a andar em direção ao mar
O barulho das ondas quebrando nas pedras o fez refletir por uns instantes.
Sentado diante daquela imensidão de céu e mar, sentiu a areia fina escorrendo entre seus dedos.
Chorou feito criança.
era à tarde e a noite se fez logo
Permitiu-se
Deitado, abriu os braços e deixou-se banhar pela luz do luar
Ao amanhecer ele se foi.
Suas pegadas foram seguidas
então o levaram devolta ao asilo.

sábado, 14 de junho de 2008

Sozinho


Lá esta ele sozinho no escuro
Obstinado a buscar pela janela a luz da rua em plena madrugada.
Nada intercede seus pensamentos que viajam sem fronteira
levando-o devolta a garota que agora habita seus sonhos mais profundos
deixando-o assim menos triste.
Naquela tarde o crepúsculo iluminou por muito tempo os caminhos por onde podia ter seguido,
e ele não sabe porque não foi.
Sozinho, ele não saiu naquele dia
ele não sai há dias.
Talvez porque precise cuidar da chaga
essa chaga que sangra de tempos em tempos.
Ainda de se acostumar com essa ferida,
mas não hoje, não esta noite.
O sol nasceu, um novo dia surgiu
E seus olhos transbordaram em plena manhã de domingo
sob um céu limpo e claro.

A ultima lágrima


Lábios secos, rosto abatido.
Sacrifica-se ao tentar erguer os olhos.
Porque não consegue?
A mais leve brisa da tarde o flagela de uma forma brusca
Suas feridas estão abertas de uma maneira jamais vista antes.
Ela se foi pra sempre
e o fato de ter ido contra sua própria vontade o machuca ainda mais.
Não resta outra saída senão despedir-se
e la está ele para o ultimo adeus
mesmo não querendo acreditar é preciso que a deixe ir.
A ultima lágrima em sua frente descerá mais dolorida que as demais.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Manifesto aberto


A coqueluche do momento.
Podre a se decompor lentamente
exalando o odor insuportável da desigualdade social.
Manifesto aberto.
Entorpecido, observo
e acabo sendo vítima do método usado
padronizado.
A matança dos bons
extermínio em massa.
Bastardos se entregam ao mundo imundo
que os dilaceram com todo ódio e descaso.
Manifesto aberto.
Paulada na nuca
cuspida na cara.
Sociedade hipócrita
me enoja sua atitude
deslocam-me os pensamentos
arrancando lágrimas e gritos de mulheres desesperadas
que perdem suas crias em segundos
pisoteados e linchados por uma população injusta e leviana
que instiga a falência múltipla da ordem.

domingo, 8 de junho de 2008

A Clandestina


Entrou sem permissão
Atirou a bolsa sobre o sofá
e a felicidade na minha cara
Esperta, soube esconder sua carta na manga
Astuta, me fez contemplá-la sem medo.
O perfume marcante
O jogar dos cabelos
Uma beleza natural
sem igual.
Habituado ao tornado
expus minha alma a ela
que sem piedade, ateou fogo
Me ferindo e sorrindo.
E apesar da dor e menosprezo
Quero-te, Clandestina maldita.
-"Oh Deus, me ajude a esquecê-la".

sábado, 7 de junho de 2008

O garotinho triste


Parado com sua baixa estatura
ele me olha à distancia
com um olhar profundo
e uma garrafa de refresco em suas pequeninas mãos
Volto minha face em direção ao sol
que vai embora em uma tarde silenciosa, se escondendo entre as montanhas
encerrando assim mais um dia.
E ao se por, volto a buscar pelo pequeno
mas não o encontro.
Ele se foi, deixando a garrafa vazia no chão
O garotinho triste foi embora.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O piano


Procurou, procurou...
mas jamais encontrou.
Na grande sala vazia restou apenas o piano
que agora com a presença da ausência se tornou silencioso.
A madrugada lhe trouxe a lua cheia, que jogou a sombra da rosa sobre ele
Quase quatro horas e seus olhos ainda o castiga com o pranto
Nostálgico, se joga ao chão
Acolhido pelo frio, adormece.
O som do piano o desperta pela manhã
Seria ela?
ou apenas sua imaginação lhe pregando peças novamente?

domingo, 1 de junho de 2008

Tenho planos


Tenho planos pra nós dois
Planos para a tarde no parque
planos para a noite na praça
planos para o final de semana
como se você não tivesse ido embora
tenho planos.
Planos para as férias de Junho
planos para o natal em família
planos para o ano que se aproxima
como se você não tivesse ido embora
tenho planos.
Volte e faça parte dos meus planos
Sem você eles não existem
Sem você, sou um triste sonhador fazendo planos em vão.

"Dedicado a Larissa"

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento