Destruído por dentro, adentrou a sala daquele ambiente hospitalar
Dirigiu-se ternamente a ele beijando-lhe a face:
- Ainda com medo?
- Não mais, e não quero um funeral, isso só serviria pra conformar quem ainda vive.
- Está certo.
- Não são muitos os que sentirão minha falta.
- Isso não é verdade!
Calaram-se de momento e por alguns minutos só se escutara o som cavo no final dos corredores.
O enfermo sem ter como se mover pediu que fechasse as cortinas e continuou:
- Eu não fiz
oque eu sei fazer de melhor a minha vida toda.
- Você fez
oque deveria ter feito, tens o dom mas não a vocação.
- Há quem diga que somos apenas simples mortais, que após a morte tudo se acaba.
- Sim, há quem diga! Eu nunca te disse mas creio que somos mais
do que isso.
- Mas o senhor é ateu!
Calaram-se novamente
e dessa vez o homem de pé com os olhos marejados reiniciou a conversa:
- Eu tinha esperanças que você se curasse.
- Sabemos que não é possível.
Mesmo com o sentimento da perda iminente continuaram a conversar por um tempo
e então se calaram naquela tarde fria, mas se mantiveram
ali, lado a lado numa atmosfera de prece e oração.
Horas depois um sinal
sonoro surgiu.
Contínuo e intenso, alertando a parada cardíaca
Já era esperado e não houve alarde
Debruçado sobre o corpo lamentou não poder salvá-lo
Então fechou-lhe os olhos e disse:
- Vá com Deus, meu filho!
Imagem do corredor de uma das alas da Santa Casa de Pedregulho