domingo, 30 de janeiro de 2011

A puta


 O jeans desbotado
 As nádegas quase rompendo o vestido justo
 Suas meias pretas, seus seios fartos caídos
 Toda sedução não é apagada pelas rugas ressaltadas que o tempo lhe deixou de presente
 Eu teria te amado se me permitisse
 Encontros de hotelzinho barato
 Aquele mesmo na qual recebia figuras de projeção
 Pelos quais se entregava sorrindo
 A risada debochada que instigou os mais sujos palavrões
 Ao ver aquele cabelo anelado enrolar-se entre os dedos de outro homem, tremi.
 O que me restara naquela noite úmida foi o xingamento: "- PUTA ".
 O excesso das lembranças da mocidade ainda perfumam minha memória, que demasiadamente velha, recorda a romã em seu estado mais maduro.
 Vinte e três anos depois ela ressurge e passa por mim, não me reconhece.
 E os gestos são os mesmos
 Os trejeitos que causavam devoção dos cães pelas cortesãs, nada mudou.
 Amadas da sociedade despudorada e castigadas pela crítica dos hipócritas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Estão todos bem


- Lamento o modo como tudo acabou, papai.
- Não foi culpa sua.
- Andei pensando sobre o que quero ser quando crescer
- É? e o que decidiu?
- Ainda quero ser artista ou talvez ter um trabalho normal de pintor.
- Eu ficaria orgulhoso de você, não importa o que fizesse.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Bem, eu disse à mamãe que não ia demorar.
- Diga a ela que eu a amo.
- Vou dizer. Bem, até logo, papai.
- David
- hum?
- Sinto muito
- Não foi culpa sua, papai.
- David? David?

(Dialogo do filme "Estão todos bem")

sábado, 15 de janeiro de 2011

O primeiro amor


 Conversando com Felipe Sant'Ana
 Me peguei imaginando em como estaria ela hoje
 Aquele sorriso intenso que me trouxe o fascínio do primeiro amor


- Certa vez me apaixonei por uma pianista francana, se encontrar alguma Giseli aí de franca que toca piano, me ligue.
- Giseli Cordeiro?
- Não me lembro o sobrenome, como ela é?
- Não sei, encontrei no Google.
- ¬¬
- To procurando pra você, tentando encontrar esse amor perdido.

(Assunto em pauta por causa de um recital que ocorreu em Ribeirão Preto e franca, cujo nome de uma das alunas era Giseli Cordeiro, não havia foto e certamente não era ela.
 Até brincou mandando-me a foto de outra Giseli mas com certeza a minha Giseli não era a bundchen.
 Até o próprio confessou ter se apaixonado por uma garota uma vez, com o mesmo nome. )

- Como você a conheceu?
- Foi na época que estudei no Senac, ela era da minha sala, e com certeza a garota mais linda que eu havia visto.
- Quanto tempo faz isso?
- Nove anos... A ultima vez que a vi foi no amigo secreto a qual a presenteei com uma caixinha de música, ela beijou minha face e se foi.

(Aliás, eu achei que seria a última vez, até vê-la dois anos depois andando ao lado de uma senhora nas ruas de franca, eu tentei segui-la, mas estava chovendo, e ela estava do outro lado da rua, acabei perdendo-a novamente.)

- Não descarte a hipótese de que ela possa estar casada e com filhos.
- Eu sei, ela tinha um namorado na época.
- Mas pode estar solteira, viúva, divorciada, ou ter acabado como a Britney Spears
- Pode ser
- A questão é..."Onde ela está?"Talvez viva, talvez morta, mas onde?
- Se tiver ido pra São Paulo, aí fudeu.
- Não existe metrópole que possa esconder um verdadeiro amor.

Por mais triste que essa conversa possa parecer, uma das possibilidades mais interessantes e remota que achei foi a de que :
"Provavelmente ela esteja com o mesmo namorado que quer casar com ela, mas ela o enrola por que não esqueceu o carinha do Senac, e sempre que olha a caixinha de música se lembra e chora."

Foto do centro de Franca

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Em memória de um amigo



 11 dias...
 Esse foi o tempo que passou depois do seu ultimo recado no meu scrapbook
 É sem duvida alguma, o fato mais triste e mais importante desse ano
 No primeiro dia de Janeiro ele se foi em um acidente na auto estrada
 Lendo um livro essa noite, algo me chamou a atenção
 O autor escreveu o seguinte:

"Quando uma casa desmorona por velhice mais abandono, parece que alguma coisa da essência das pessoas que viveram nela e foram felizes - pelo menos por algum tempo ou alternadamente, já que ninguém é feliz pra sempre - fica pairando sobre os escombros e sobre utensílios abandonados pela última família que morou nela."
 A casa dele não desmoronou, claro.Continua lá, de pé.
 E agora não há ninguém morando nela, mas algo dele ainda paira no ar, algo como uma lembrança viva.
 É estranho como a gente se sente em relação a alguém querido que se foi
 Essa sensação de que você poderia ter feito mais, esse vazio que dói
 Eu tenho pensado nele todas as noites quando volto pra casa, e se tivesse que demonstrar o quanto ele faz falta, faria isso com um abraço.


Em memória de Alexandre Tanaka

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento