sexta-feira, 30 de abril de 2010

O engraxate


 Longos rastros de nuvens cortavam o céu num tom roxo azulado
 Começara então a noite de sexta-feira
 O silencio mantido pelo ambiente desde a minha chegada fez com eu me desse conta de como eu estava seguro.
 Olhei para os meus sapatos lustrosos, e a imagem me fez voltar à tarde de quinta-feira.
 Os idosos sentados por todos os lados, alguns caindo no truque da bolinha
 As pessoas passando rápido, os vendedores ambulantes.
 Os engraxates, aliás...um engraxate.
 Esse que eu observava me abordou, e eu deixei que ele fizesse seu trabalho
 Enquanto engraxava eu lhe fazia perguntas.
 Família, casa; nada... nada foi a resposta, ele não tinha mãe nem pai, Era de Ituverava mas morava nas ruas de Franca, tomava seu banho por cinco reais, e ganhava a vida distribuindo panfletos.
-" Tá ficando bom, hein?!" Assim eu disse, elogiando o trabalho do garoto.
 Ele sorriu e agradeceu
 Por um instante eu pude perceber a total liberdade que ele tinha em mãos, não havia compromisso algum com a sociedade.
 No entanto, a insegurança e as más condições de vida é o preço que se paga por tal desobrigação.
- " Tá certo!" Disse eu, dando-lhe o dinheiro sem que ele se importasse em devolver o troco.
- " Brigado Senhor." Respondeu o pobre, com um sorriso jovem e banguelo.
-  Boa sorte meu caro, Se cuida, viu?
 Apertei-lhe a mão com entusiasmo, e lá se foi ele solitário pela praça com sua caixa de madeira.

[foto de Iolanda Huzak]

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pai e filha


 Depois de uma guerra de travesseiros aos gritos e risadas,
deitou-se com ela debaixo da tenda construída no meio da sala.
 Abraçou-a com afeto e ajeitou seus cabelos com as pontas dos dedos por de trás da orelha.
 Ficou lá, quieto olhando para o céu da cabana, ele era com toda a certeza, o homem mais feliz do mundo.

( Essa fotografia eu tirei no inicio desse ano, queria eternizar um breve momento de carinho entre um pai e uma filha, e consegui.)

domingo, 25 de abril de 2010

O último dia


 Ah, que beleza... meu último dia de trabalho antes que eu entre de férias
 O dia de hoje me ensinou mais que em um ano todo.
 Sim, pra quem não acredita em dias intensos, esse foi um deles, é verdade.
 Lá estava eu, seguindo minha rotina como um dia qualquer, quando subitamente fui surpreendido por um carro.
 Quanto azar... conseguir ser atropelado em uma cidadezinha de quinze mil habitantes, cidadezinha essa que nem transito tem, quem dirá acidentes.
 Bom, mas foi basicamente isso, eu não me recordo de tudo com detalhes, essas coisas sempre são tão rápidas, lembro-me de ficar estendido no chão, imóvel, rodeado por dezenas de pessoas que saíram não sei de onde.
 Alguns me diziam pra eu não me mexer, porém eu jamais me mexeria em um caso desse.
 Outros apenas me observavam, confesso que é muito estranho ser observado, ainda mais em uma situação como essa, mas nessa altura eu já não me importava mais.
 Não digo que estive próximo da morte, mas poderia ter acontecido.
 Já no hospital eu imaginei os acidentados graves, e em como a família reage em situações como essa, até então eu não havia ligado pra minha mãe.
 Muitas coisas nos vem à cabeça, e eu me lembrei de "Parceiros da vida" uma série de TV que acompanhei até o ultimo capítulo, em um dos episódios uma paramédica morre em um acidente de carro, mas antes de morrer ela olha para o seu parceiro e pensando na mãe, diz:
- Minha mãe...diga que eu não sofri.
 Eu não tive coragem de ligar pra casa, apenas cheguei em uma ambulância com a perna enfaixada, surpreendentemente minha mãe já sabia, não que alguém tivesse dito a ela, não! Ela apenas já sabia, ela sentiu que algo havia acontecido e me recebeu sem muitas surpresas, mas extremamente acolhedora.
 Já meu irmão, esse sim, chorou ao me ver, chorou alto, e isso foi comovente.
 Fiquei surpreso, mas isso é oque acontece quando você ama uma pessoa, você se sente incomodado ao pensar que poderia perdê-la.
 Eu amo minha família, e talvez essa seja a época mais feliz da minha vida até agora, pois eu tenho tudo que preciso bem aqui.

 Ao terminar esse texto eu entrei no twitter, e lá meu irmão havia escrito algo algumas horas antes:
Eu fico muito tempo em casa... Fico falando sozinho, mas meu irmão vai entrar de férias esse mês, aí falo com ele."

terça-feira, 20 de abril de 2010

O amor


"O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, e não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade." (Coríntios 13:4-6)


PENSE NISSO, E COLOQUE SEMPRE SEUS PÉS PELAS MÃOS POIS PRECISAMOS DO EQUILIBRIO DAS EXPERIÊNCIAS PARA NOS FAZERMOS HUMANOS.

 Assim me disse um amigo há algumas semanas, um grande amigo por quem tenho muita admiração.
 Eu andei trocando por muitas vezes meus pés pelas mãos, não que eu me arrependa disso, claro que não!
 Devemos nos arrepender só do que não fizemos? não, isso não é verdade, por muitas vezes fazemos coisas que não nos orgulhamos no futuro, isso é fato, mas sem querer fugir do contexto...sim, caro amigo; o amor tem dessas coisas, não digo apenas o amor pela(o) garota(o) amada(o), mas o amor por tudo e por todos.  Não, não se vangloria, por que não tem o por que de fazer isso, não o amor verdadeiro!
 Não busca o próprio interesse? Mas é claro que não! Por mais que digam o contrário, que tudo que fazemos no fundo é por benefício próprio, que estamos sempre esperando algo em troca, isso não é verdade. só pelo fato da outra pessoa estar feliz, estamos felizes também, pelo menos eu estou :-)
 Não se irrita? ah, agora tenho que discordar, tem que se irritar, é próprio da gente irritar-se por algo, um defeito, uma falha, muitas vezes de nós mesmos, consequências de amar verdadeiramente.
 E se é sofredor? bom, eu queria deixar isso por ultimo, já que ao final desse texto me encharco em lágrimas doloridas, lágrimas essas que marcam minha face, com muita dor e pesar, se isso não é sofrer, eu não sei mais oque é.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cadê a compaixão?


 Hoje, infelizmente pude constatar por duas vezes que está cada vez mais difícil encontrar por aí a compaixão pelo próximo
 Estava eu na Quilométrica fila do Banco a quase vinte minutos, quando ao meu lado surge uma pobre velhinha que aparentava seus oitenta e tantos anos de experiencia.
 Na ocasião eu já era o segundo da fila, prestes a ser atendido, esperei que o homem na minha frente cedesse o lugar à senhora, que meio perdida olhava pro caixa e pra fila.
 Mas o rapaz nem se importou, sendo assim, cheguei até ela e disse que não precisava esperar e a coloquei na minha frente.
 Atrás de mim começou um burburinho de pessoas que não concordaram com a minha atitude, é claro que eu não estava nem aí, por que havia feito a coisa certa!
 A velhinha aposentada não demorou nem cinco minutos, sacou seu dinheiro e se foi.
 Depois, lá pelas três da tarde quando eu estava indo almoçar, eis que surge na minha frente um pobre senhor caído no meio da rua, eu imediatamente parei minha moto e fui em sua direção, apanhei sua bengala e o velho me estendeu a mão pedindo ajuda, notei que haviam dezenas de pessoas na praça e num bar ao lado, ninguém "ABSOLUTAMENTE NINGUÉM FOI AJUDÁ-LO"
 Eu o ergui do chão e insisti em levá-lo até a farmácia que trabalho para cuidar dos ferimentos, mas ele me agradeceu muito, dizendo que não precisava, que morava bem próximo dali.
 Eu fui embora me questionando por que as pessoas estão tão frias, isso não deveria acontecer, ESTOU NUMA CIDADEZINHA DE 15 MIL HABITANTES, as pessoas tem a obrigação de serem acolhedoras, onde está o amor pelo próximo? onde é que está a compaixão?

( Foto de Aidê Londe, minha vó, por quem tenho muita compaixão )

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento