sábado, 28 de maio de 2011

Mais uma visita


 Ontem eu estive mais uma vez no lar dos velhinhos de Pedregulho
 O dia estava acabando e o sol já havia partido.
 Entrei como sempre e logo me deparei com alguns idosos no amplo corredor
 Alguns de cadeira de rodas, outros se movimentando lentamente apoiando-se na barra, 
podia-se ouvir tosses abafadas e poucas conversas como de hospital, mas o silencio era notável.
 Ao fim do corredor avistei o refeitório, 
e enquanto caminhava para aquela grande porta, 
fui passando pelos quartos.
 Em cada porta havia algo que me chamava a atenção
 Vi um filme passar diante dos meus olhos:
 Um quarto escuro, 
um quarto não tão escuro, com uma tela de uma paisagem à óleo, 
um quarto vazio, 
um quarto com uma velhinha calçando os sapatos e sendo amparada por uma enfermeira. .
 Enfim... cheguei ao refeitório, e lá uma senhora muito simpática ajeitava a toalha de mesa sem perceber que eu havia entrado
 Me aproximei, e ela virou-se pra mim com aqueles olhos azuis perguntando-me talvez sem consciência, se era a primeira vez que eu estava ali
 Alguns idosos deram risada por que eu já estivera lá inúmeras vezes, e até já falara com ela.
 Então sorri e toquei seu ombro, e ela continuou a arrumar a mesa
 Senhor Santista, um velho bem alto e já muito doente, ficou contente ao me ver
 E ao dar-lhe a mão para cumprimentá-lo ele ofereceu as duas com um gesto de carinho e gratidão.
 Mesmo sabendo que estão sendo bem tratados, é triste pensar no fim.
 Quando eu fui embora, o crepúsculo já se estendera por todo o céu
 Estava tão lindo... porém, não havia ninguém para apreciá-lo
 Então tudo me pareceu tão solitário que quase emocionei, 
todos aqueles velhinhos sozinhos esperando por alguém, 
não que seja triste envelhecer, é inevitável.
 O que me incomoda mesmo é o modo como a maioria dos filhos jogam seus pais no asilo
alegando não terem tempo.
A vida é muito engraçada, começamos e terminamos quase da mesma maneira, como crianças.


Dedicado à dona Tarsila, uma velha amiga

( Imagem,Velho homem triste de Van Gogh)


sábado, 14 de maio de 2011

O cheiro do rocambole da pullman




Toda vez que sinto esse cheiro me arremeto ao passado
E toda vez que me lembro do passado, a lembrança do cheiro do rocambole me vem à memória
Havia uma fábrica da pullman em frente a escola que eu estudava no butantã
E era inevitável não sentir aquele cheiro de chocolate durante as aulas
É incrível a maneira como certas coisas se instalam na nossa cabeça e voltam frequentemente
De tudo que eu passei em São Paulo só guardo boas lembranças.
Recentemente li um livro de Phillip Roth e em uma passagem eu pude sentir toda a nostalgia de ser um velho solitário:
"Mas quanto tempo um homem pode ficar relembrando os momentos da meninice? por que não desfrutar os melhores momentos da velhice? ou seria o melhor da velhice isto - relembrar com saudade o melhor da meninice ... ?"
Eu me lembrarei pra sempre das inúmeras vezes que via meu pai chegar depois de um longo dia de trabalho
Dos tempos de colegio na Guimar Rocha Rinaldi
E do cheiro do rocambole da pullman.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento