segunda-feira, 29 de junho de 2009

Arte Efémera


 Adentrou o recanto sem luz em pleno dia,
avistando o croissant sobre a mesa de centro.
 A blusa jogada sobre a poltrona fazia voltas
 Uma prova tangível subsistira.
 Lembrara da noite anterior na qual assistiu o nascimento de uma ex-donzela
 A eloquência em excesso da jovem que acabara de conhecer.
 Por anos a viu apenas como a vizinha receosa,
e agora era para ele a mulher da noite passada,
a qual lhe deu o seio como uma cadela à sua cria.
 Oque numa fração de horas a faria explodir em soluços
 Algo banal, chegando a ser cômico para alguns.
 A verdadeira arte efémera, 
das flores que murcham no mesmo dia em que desabrocham
 O viço, a beleza, a cor, o brilho.
 Tudo se foi no dia seguinte à visão do homem que a deflorou.
 A ela tudo foi digno,
que sentia aquilo como uma marca de nascença.
 Acordou olhando para a mesa de centro onde havia apenas as migalhas do croissant.
 Seu homem se foi durante o sono
 Sentiu uma tristeza e uma solidão infinitas.
 Colocou a blusa de volta e levantou-se,
dizendo palavras duras a si mesma.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Reencontro


 O café estava lotado
 Ao se aproximar vislumbrou-a através da vidraça sem se anunciar.
 Via a imagem de sua própria sorte
 Se escondia atrás de uma barraca de souvenirs.
 Queria surpreendê-la com sua chegada,
e percebera pela primeira vez em sua vida que não sobreviveria à morte dela.
 Distraída com seu chá, não notara a chegada pontual do seu amante,
que se aproveitando da situação disse já puxando a cadeira:
- Espero que não se importe!
- Absolutamente - disse a dama espantada e feliz com sua chegada repentina.
 Seu único desejo por meses foi vê-la,
pois com ela passara até então o mais belo ano de sua vida.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Alguém pra envelhecer junto


 Amanheceu chovendo.
 Seus lindos olhos claros estranharam o ambiente a sua volta
 Ela havia vivido ali em um tempo distante.
 Levantou-se depressa e se deparou com sua face no espelho.
 Suas rugas haviam sumido
 Seus cabelos voltara a cor natural sem que fosse preciso pintá-los.
 Assustada, tateou seu rosto não acreditando.
 Seus lábios, seu nariz,
estava perplexa.
 Voltou seus olhos pra cama e lá estava ele,
sentado a sua espera junto a cabeceira.
 Descruzou os braços sorrindo e fez um gesto com a mão, chamando-a pra junto de si.
 Ela voltara a ser jovem novamente.
 Tinha consigo o homem que amava
e uma segunda chance de escolher caminhos distintos em sua vida,
mas agora com a vantagem da lembrança de um futuro e suas consequências.
 Suspirou fundo e deitou-se junto de seu amor com um sorriso escancarado.
 Pela primeira vez em toda sua vida estava verdadeiramente feliz,
já que no fim dela se encontrava sozinha e com medo,
por ter feito escolhas erradas no passado.
 Poderia enfim ter alguém pra envelhecer junto,
um amor pra vida inteira.
 Ficou ali abraçada junto dele olhando para o teto por um bom tempo.
 E aos poucos os trovões à trouxeram para o presente
 Então sua face voltara a ser castigada pelo tempo.
 Não se virou para ver seu reflexo, apenas deu uma boa olhada em suas mãos.
 O quarto estava vazio e só se ouvia o barulho da chuva caindo.
 Deitou-se chorando baixinho e foi encontrada três dias depois sem vida por uma filha que não via ha anos.

(Baseado na história de vida de Sebastiana, uma antiga moradora da cidade de Pedregulho que fora prostituta no passado.)

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento