Ao adentrar a sala, deparei-me com a pobre na cadeira de rodas
A claridade atravessava as grandes portas de madeira, iluminando cuidadosamente o
ambiente
Eu havia sonhado com ela a noite passada, seus cabelos, sua pele, suas mãos... tudo estava como era antes
Recordei-me do sonho assim que estacionei de frente o casarão, abri o portão devagar
enquanto à via sorrindo pra mim, dizia alegremente:
- Veja, estou curada.
Mas o sorriso se desfez como pó quando me aproximei daqueles olhos cansados
Disfarçando o choque imediato disse ternamente à pobre senhora que acabara de levantar:
- Bom dia Dona
Miroca, como você está hoje?
Era claro que não estava nada bem, mas a mesma se esforçava para não
demonstrar tamanho sofrimento:
- Eu passei um pouco mal essa noite, mas estou melhor agora, desculpe te
incomodar
- Imagina... não é
incomodo algum!
A dama de
companhia acompanhava com o olhar atento enquanto o aparelho de pressão comprimia o braço da senhora.
Após isso retirei da sacola algo que havia prometido:
- Veja, isso é pra você.
- Ah, que lindo, foi você que fez?
- Sim, fiz em um dia de domingo enquanto estava de folga.
- Eu costumava pintar quando estava boa
- Pois é, eu vi as telas na parede, são lindas.
- Sente-se Rafael
- É que preciso ir mesmo!
- Obrigada pelo presente.
"Imagem do presente que dei a ela."
