segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sem título


 Gostaria de compartilhar com vocês o texto de um amigo
 Texto esse que com toda a certeza foi um dos mais tocantes que já li nos últimos tempos, ele me fez recordar de como meu pai chorava sobre a sepultura de minha avó quando íamos visitá-la.

 A MÃO DE MINHA MÃE



Quando eu era menino, lá pelos três ou quatro anos de idade, minhas mais remotas lembranças são as de minha mãe me levando para passear pelo centro de São Paulo.
Aquilo me maravilhava. Tanta gente, tantas lojas, os carros, os bondes...
Como eu era pequenino ainda, minha mãe, sempre muito atenta, não descuidava de mim um instante, me levando pela mão para que eu não me perdesse dela... Cuidados de mãe amorosa !
Pois foi por volta desta época que eu comecei a ter um sonho, que se repetiu por muitas e muitas noites desde então, em que eu me via perdido de minha mãe numa rua desconhecida no centro movimentado da cidade. A aflição, quase pânico, que eu sentia nesses sonhos, ao me ver perdido, só era aliviada (e que alívio era aquele !) quando, como que por encanto, aparecia a mão de minha mãe a segurar a minha. A agonia instantaneamente se transformava na mais absoluta sensação de conforto e segurança: minha mãe ia me proteger de todos os males do mundo, eu imaginava naqueles sonhos de criança...

E foi uma vez, quando morava na Inglaterra, estudante de pós-graduação, que eu vi um filme sobre a vida dos soldados ingleses nas trincheiras da primeira guerra mundial.
Marcou-me profundamente o depoimento de um dos ex-combatentes no qual ele descrevia como eram cruéis as condições de vida daqueles soldados, que, como ele, haviam testemunhado tantas mortes no campo de batalha.
Neste depoimento, ele revelou o fato marcante que ficou gravado em minha memória desde então: disse que havia presenciado muitos de seus amigos morrerem em combate, e que todos eles, nesse momento de agonia da morte iminente, sempre, pediam pelas suas mães.
Isto nunca mais me saiu da cabeça...

Hoje, minha mãezinha não está mais entre nós.
Faleceu anteontem, nos deixando de repente, sem que pudéssemos nos preparar adequadamente para a sua ausência (e qual filho pode estar preparado, de fato, para a perda da mãe?).
Eu, já nos quase cinquenta anos de vida, subitamente me vejo transportado para aquele sonho de infância: aquela mesma aflição da busca pela mão de minha mãe...
Agora posso, definitivamente, entender porque era pelas suas mães que os soldados chamavam, no pressentimento da morte iminente...

... Como gostaria de poder ter, só mais uma vez que fosse, as mãos amorosas de minha mãe estendidas para mim...

(Marcelo Gonçalves)


As fotografias ilustrativas são da minha infância, mamãe e eu.

4 comentários:

Thiago dos Reis disse...

pancada!

Mundo do Gê disse...

Nossa Rafa, que texto hein?!Olha sempre gosto muito dos seus escritos, mas esse me tocou de uma forma descomunal...É não sei se pq ontem foi o aniver de minha mãe...Mas na verdade acho que sempre que penso em minha mãe ela me parece eterna, acima de Cronos...Pois é fiquei arrepiado, gelado, parecia sentir a dor de quem perdeu a mãe ao ler...
Graças à Deus tenho minha mãe ao meu lado e espero que por uns 51 anos,que chegue ao dobro do que completou ontem...
Quanto aos soldados de guerra que morriam chamando por suas mães, talvez pq a gente acredite que mãe tem o dom de acalantar, de espantar a dor ao toque de suas mãos...Não sei se todo mundo é assim mas eu preciso de colo de mãe pra curar qualquer dor...

Forte abraço!
Desse seu amigo virtual, um tanto quanto sumido!

Mundo do Gê disse...

Grande amigo Rafa, tenho um selo pra vc!Passe lá...
Abraço!

Daniel Savio disse...

Cara, nunca estamos preparados para a morte de que a gente ama...

Fique com Deus, menino Rafael.
Um abraço.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento