Destruído por dentro, adentrou a sala daquele ambiente hospitalar
Dirigiu-se ternamente a ele beijando-lhe a face:
- Ainda com medo?
- Não mais, e não quero um funeral, isso só serviria pra conformar quem ainda vive.
- Está certo.
- Não são muitos os que sentirão minha falta.
- Isso não é verdade!
Calaram-se de momento e por alguns minutos só se escutara o som cavo no final dos corredores.
O enfermo sem ter como se mover pediu que fechasse as cortinas e continuou:
- Eu não fiz oque eu sei fazer de melhor a minha vida toda.
- Você fez oque deveria ter feito, tens o dom mas não a vocação.
- Há quem diga que somos apenas simples mortais, que após a morte tudo se acaba.
- Sim, há quem diga! Eu nunca te disse mas creio que somos mais do que isso.
- Mas o senhor é ateu!
Calaram-se novamente
e dessa vez o homem de pé com os olhos marejados reiniciou a conversa:
- Eu tinha esperanças que você se curasse.
- Sabemos que não é possível.
Mesmo com o sentimento da perda iminente continuaram a conversar por um tempo
e então se calaram naquela tarde fria, mas se mantiveram ali, lado a lado numa atmosfera de prece e oração.
Horas depois um sinal sonoro surgiu.
Contínuo e intenso, alertando a parada cardíaca
Já era esperado e não houve alarde
Debruçado sobre o corpo lamentou não poder salvá-lo
Então fechou-lhe os olhos e disse:
- Vá com Deus, meu filho!
Imagem do corredor de uma das alas da Santa Casa de Pedregulho
5 comentários:
Parabéns pelo texto Rafael.
Momentos como este que você mencionou atravéz desta história,dentre outras coisas mostra que chega uma hora decisiva em nossa vida em que aquilo que deixamos de fazer e realizar passará diante de nós.
Seja para quem está partindo ou para quem fica,talvez uma simples atitude de gratidão ou aproveitar o potencial que tem para fazer algo que traga benefícios coletivos vem a tona em dias como este.
Nessas horas todos revelam suas fragilidades e entende mesmo que momentâneamente que existe algo maior pelo que viver.
Forte abraço meu amigo.
Novamente se superando. A descrição da cena foi cirúrgica, perfeita.
Parabéns!
Bela narrativa, nesta horas fazemos tantas indagações, ora nos vestimos em crenças, ora sentimos a descrença.
Arrepiei.
Estive em um momento muito tenso, em iminente perda... Nos últimos minutos que quem fica passa com quem vai, a vida e seu significado sofrem uma mutação instantânea.
Mesmo os mais frios e os mais hostis querem acreditar que somos muito mais que isso.
Eu acredito.
Minha cabeça não tá lá essas coisas..então não vou enrolar muito. Só quero mesmo ti dar os parabéns pelo blog e se der na próxima eu faço um comentário inteligente ;)
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