SMS 08:00, DE RAFAEL PARA AMARALINA

 Ontem não pudemos desfrutar do crepúsculo que o dia teima em deixar, pois por conta do tempo fechado, deixamos de ser presenteados .
 Mas a manhã de hoje nos trouxe a gota de orvalho, e isso compensa tudo que nos foi tirado.

Despedida aos amigos

 Horário reservado a propaganda eleitoral gratuita, véspera de eleição
 Me peguei rindo sozinho, não pela politica, mas pelos bons tempos que passei trabalhando
 Eu costumo dizer que"Os melhores ficarão em minha memória enquanto eu existir aqui."
 Hoje foi o ultimo dia, e mesmo antes de partir pra sempre, eu já sentia uma saudade antecipada

 Eu me lembrarei com muito carinho do Marcelo, com suas ligações para buscá-lo por volta das 13:15, e seu café no fim das tardes.

 Da Amaralina com seu " oOOooossa sinhora"quando se encontrava em apuros, e da sua maneira desastrada de lhe dar com tudo a sua volta.

Da Roberta com seu "Boooooom Diiiiiaaaaa" demorado e extremamente motivador.

 Detalhes que guardo na memória e fazem toda a diferença na minha vida.

Tudo de bom que tive nesse tempo, devo à eles, meus colegas de trabalho, que se tornaram amigos de verdade.
E no final de cada dia ao fecharem a farmácia, mesmo que eu não esteja presente, lembrem-se que e as águas de Amaralina serão pra sempre gotas de luar.Canção oferecida"Conto De Areia - Clara Nunes"

João

 João era um homem incomum.
 Eu não saberia descrevê-lo, mas a gente sabe quando uma pessoa é diferente, basta olhá-la.
 Levava consigo grandes sonhos.
 Eu li recentemente a seguinte frase em um blog:
"Você é do tamanho do seu sonho", e João era imensamente grande.
 Ele levava uma vida normal de interior, de casa para o trabalho, do trabalho pra casa.
 Certa vez, viu a garota amada abandonar o buquê que ele havia dado com tanto amor
Nesse dia, tarde da noite, ele assistiu ao filme mudo"Uma mulher de Brio", com Greta Garbo e John Gilbert.
Em uma das cenas duas frases foram inseridas em uma legenda. Ela entrou em seu escritório. Tinha um anel grande demais pro seu dedo:

- Seu anel está frouxo.
- Já me disseram que sou como este anel, prestes a cair.

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Em um sábado à noite, João conversou com uma amiga que tinha problemas com o pai, deu-lhe vários conselhos, e no começo de uma semana que não parecia ser muito promissora, leu o seguinte no diário sobre a mesa:
" ... e o domingo que não é muito meu amigo [...] foi bem generoso desta vez, ele me deu a chance de conhecer mais a fundo a pessoa que talvez mais me ame nesse mundo."

O tempo foi passando e João já não era um homem tão feliz, a rotina o consumia
Ele sabia que devia buscar a felicidade
E em uma manhã primaveril, desapareceu.
A garota do buquê jurou tê-lo visto indo embora da cidade em uma nave espacial, não é à toa que ele a achava deslumbrada demais.
Já a amiga das noites de sábado, pensou que ele apenas tivesse tirado férias pra descansar
A verdade é que ele nunca mais foi visto, talvez vivera em algum lugar mais que as pessoas que o cercavam, mas foi como se tivesse morrido naquele dia.
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Uma velha amiga que sempre o visitava, disse baixinho ao entardecer de mais um dia sem sua presença :

"A gente perde tantas coisas pelo caminho. Algumas a gente perde e nem percebe, e no futuro sente falta e nem sabe do que."

(Créditos á Michele Oliveira)
imagem de um ramo desfeito no parque das nações em lisboa, fotografia de josé Carlos Ferreira.
afinalosglutoesexistem.blogspot.com

Imagem do filme "A woman of affairs"(Uma mulher de Brio) 1928 com Greta Garbo e John Gilbert

Sensações

 Ontem eu pude sentir novamente uma das melhores sensações que se pode ter.
 Ah, sensações!
 A sensação de estar apaixonado, de estar atrasado, sensação de cortar se barbeando, de sentir a chuva no rosto. Pois é... inúmeras e distintas.
 A sensação que pude experimentar ontem foi a de chupar jabuticaba direto do pé, eu não fazia isso desde que meus avós moravam no campo.
 Eu estava nas terras do casal de velhinhos mais simpáticos de todo o interior paulista.
 Senhor Euclides havia ido buscar a assinatura da Dona Maria Rosa, e eu (o motorista), aguardava debaixo do pé, catando bolinha por bolinha ao som dos pássaros mais apreciáveis daquele vale.
 Enfim ele voltou com a assinatura em mãos, apontou o fusquinha na garagem, era da filha a qual eu acompanhei morrer de câncer.
 Ele nunca dirigiu, o carro só era guiado pela única filha que tivera na vida.
 Aquela imagem do fusca amarelo coberto pela poeira parado à meses, me trouxe outra sensação, a de vazio.
 O olhar do Senhor Euclides ficou longe após lamentar a morte da amada
 E eu o amparei como qualquer outra pessoa faria, tocando em seu ombro.
 Então seguimos viagem.