sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O ultimo sorriso



As vezes sonho com você
Sonhos são sempre tão cruéis
Pois sempre que acordo percebo que foi só um sonho
um sonho distante, impreciso, inconstante
apenas um sonho.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo.
Tenho vontade de apagar aquela ultima visão
uma visão triste sua, sumindo em um adeus triste
Então penso:
E se eu voltasse?
Será que faria tudo de novo?
Será que repetiria as mesmas escolhas?
Escolhas que agora parecem erradas
mas eram tão certas.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo.
Lembro-me do período que passamos juntos
Até posso sentir seu perfume na blusa que a emprestara num dia de frio
e sua cabeça em meu ombro quando necessitara de ajuda
Um período curto mas que foi o bastante pra saber que era a única
Até então não conhecia a dor
essa dor que no escuro do quarto nos faz chorar e pensar em voltar no tempo.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo.
Mas sei que não há como, e isso é o que mais me entristece
saber que só tenho as lembranças e mais nada
De que adiantam meras lembranças?
só pra nos levar ao pranto?
Então me pergunto:
Aquela visão que tenho sua, sumindo em um adeus triste
não poderia simplesmente desaparecer pra me deixar viver?
Mas agora não sei se estou certo em dizer isso
pois não sei se conseguiria suportar viver sem aquela visão
Afinal foi a ultima vez que a vi
Então me apego a esse ultimo momento
o ultimo adeus
o ultimo sorriso.
Era a luz sem duvida nenhuma
pois hoje me encontro num poço escuro
na trevas da minha solidão
com a esperança de te ver em qualquer esquina
dar de cara com você
dizer tudo sem demora
mas a certeza que tenho de nunca mais encontra-la novamente, me arrasa.
Ah, se eu pudesse voltar no tempo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Osmarina



Sacolinha branca na mão
Sacolinha que leva sempre consigo
Sorriso pequeno, chegando a ser desproporcional, mas intenso
Olhos tristes e meigos
Expressão sofrida da face
Possuidora de uma bondade tamanha
talvez seja uma santa
talvez?
No meu ver sim, é uma santa
uma pobre santa triste
Oque será que carrega na sacolinha?
Desce do ônibus no meio do caminho
mora no pé da serra
sabe-se lá com quem
- O que leva na sacolinha, Dona Osmarina?!
Queria mais saber sobre ela
tentar ajudá-la
que a chorando uma vez
sabe-se lá porque
- Porque choras, Dona Osmarina?!
quem a fez chorar pecou
- Diga-me, talvez posso ajudá-la!
talvez?
Não! Vou ajudá-la.
Mas antes não exito em perguntá-la:
O que a Senhora trás na sacolinha branca?
Cajamanga.- diz ela - trouxe pro Tonho!
-Ah bom! Então até amanhã, Dona Osmarina.
E lá se vai novamente a pobre, depois de mais um dia de trabalho.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Mistérios da natureza



Aproxima-se uma grande tempestade magnética
sou parte dela integralmente
Eufórico, excitado
a tomo em meus braços
minhas expressões faciais são como as de um maestro
orquestrando uma sinfonia de Mozart.
As vezes tomamos decisões precipitadas
sentimentos que não conseguimos controlar
mistérios da natureza.
Acabou, está feito
Passos curtos, sem pressa pra chegar
não tenho mesmo pra onde ir...
Apenas observo a grande tempestade que se aproxima.
Após a imensa tormenta que deturpou meu ser, vem a calmaria.
Clarões ofuscam meus pensamentos nessa noite escura
e essa maldita quietude esta longe de terminar.
A chuva não virá para o meu azar
não irei de me punir com um banho frio.
Só queria roupas limpas
me livrar de todo torpor que predomina.
Quanto a chuva; estava errado
ela cai com força, encharcando meu corpo e minhas vestes
- "Lave minha alma" - peço!
mas sinto com a sagrada devoção na igreja
que ainda resta algum pecado
que não se apagou toda transgressão dessa noite.
Então retorno ao templo cristão pra mais uma confissão
e passo o resto da noite em claro com a duvida
se devo ou não usar a batina.

Lembranças de um amor



Sentado sobre uma pedra
sentindo o frescor da brisa vinda da amplidão do vale
lembro-me daquele amor arrebatador
aquele amor que se foi
e que chego a pensar que jamais terei notícias novamente.
Com a dor avassaladora que sinto
nem percebo que de uma em uma, as lágrimas no meu rosto rolam
rolam deixando um rastro profundo de tristeza
tristeza que parece não ter fim.

Voltando do trabalho



É fim de tarde,
e até comovente de se ver
Almas boas de matéria cansada voltando pra casa.
Deixo o trabalho em busca do lar
entregue ao balanço do ônibus
rumo a cidade de origem.
Suspiros, espasmos, pensamentos longe.
Pela janela a mata densa passa rápido.
Porteiras, pedreiras, vacas.
Tudo é deixado pra trás.
Pra quem assiste o nascer do sol toda manhã
É uma bênção surpreende-lo partir
Acho que a despedida é mais bela ainda
já que hoje ele fez seu papel
e eu também.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cláudia



Cláudia
Por ser de todos resolvi pintá-la,
para guardá-la comigo, que...
fisicamente não podia tê-la junto todo tempo.
"- É realmente uma obra de arte viva"
Assim diziam os rapazes quando Cláudia passava.
Cláudia não era mulher pra casar.
mas eu não pensava assim,
mas pra mim Cláudia só posava e partia.
Cláudia era de todos sem dúvida
Óh, Cláudia!
por ser de todos resolvi matá-la.
Assim seria pra mim, jovem e bonita eternamente.
Não apenas na tela, mas principalmente em minha memória.
Cláudia, Cláudia!
sempre foi de dar espetáculos,
e assim foi até na hora da morte.
Digno de aplausos.
A rajada de vento que passara,
talvez viera pra buscar o espírito de Cláudia,
que aos poucos, estendida sobre a mesa, empalidecera.
Agora a tela parecia mais viva que o próprio corpo.
O crepúsculo se foi, e Cláudia também,
mas não completamente.

O medo da noite




No rádio: "Piaf", em sou baixo e abafado.
Teias de aranha cobrem os cantos do teto do aposento
Ao olhar pela greta da janela observa a criatura
que imóvel parece perceber estar sendo observada
um descuido com o olhar a faz perder o grotesco animal de vista
O conforto de seu quarto não é mais tão seguro
O medo é inevitável
Trêmula, com seu olhos esbugalhados, torna a caçar a besta
Um barulho interfere e a faca que segurava desliza e cai
Sem tirar os olhos do buraco, vai tateando a mesa de cabeceira,
e em fração de segundos sente algo estranho que parece não pertencer à aquele ambiente
O tenebroso arrepio a faz pular sobre a cama embaraçando no fio do rádio jogando-o ao chão.
Som nenhum interfere mais o pesadelo da noite,
que parece não ter fim debaixo do cobertor
O assoalho é pisoteado por algo desconhecido ao seu redor
O suor ensopa a pobre que de medo reza;
reza pra que amanheça logo.

O relógio de parede



Foi uma triste despedida
Ele a deixou ali sozinha
com a promessa de voltar pra buscá-la
E ela ficou acenando um adeus sem fim
debulhando em lágrimas
secando rapidamente com a mão as que rolavam pela sua face
Não havia motivo pra chorar, pois ele jurou voltar
Sozinha a olhar pela porta de sua casinha, ela ficou.
E no final da quente estrada, ele sumiu lentamente.
Talvez sentisse por um instante que seria a ultima vez que o veria
e o pranto que ela tentava controlar até então, se fez de vez
Dia após dia lembrava do seu amado
Durante sua ausência só lhe restou as lembranças
Lembranças felizes antes de sua partida
Gestos, palavras, presentes
E dentre todos os presentes que ganhou do seu amado
havia um em especial
um modesto relógio de parede,
que agora pra ela era o objeto de mais valor naquela casinha
À tardezinha sentava diante dele a olhar os ponteiros
contando os minutos para o seu regresso
Os anos se passaram
O relógio de parede parou de funcionar
mas ela sozinha continuava a esperar
com a esperança de uma única notícia, boa ou ruim
O que teria acontecido com o seu amado?
A duvida a acompanhou até o fim
Ele nunca voltou
E ela morreu sozinha, velhinha na cama.
Mas momentos antes de morrer, deu uma ultima olhada pra porta de sua humilde casinha
com um restinho de esperança de que a porta se abriria,
e la ele estaria.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A menina do quarto



Sozinha trancada em seu quarto
Tem consigo que algo se foi
Se questiona
A resposta não vem
Sem a resposta não há conclusão
Onde está aquela alegria desenxabida?
Mesmo assim a queria de volta
Sempre aceitou tudo calada
E em seu quarto desmoronava
Vinha abaixo com o peso da mágoa
Ah! menina do quarto
Em seu quarto rosa
entrelaça-se em seus ursos,
que são seus amigos agora.
Suplica à aquele que redime
que a perdoe por praticar tal ato infame
Virgem é nome que se dá a mãe de Jesus Cristo
Ah! Pobre menina do quarto
vem abaixo com o peso da consciência
não se acha mais decente
Ah! menina
Saiba que...
...não perdeu a virgindade,
ganhou sua sexualidade.

Ser amargurado



Pra sanar esse sentimento de momento
Pelo menos amenizar esse triste dia
um cigarro
É certo que vai me deixar num estado deprimente
Até chocante de se ver
mas me afastarei dos problemas por um instante
não quero que tenham pena de mim
Apesar de ser digno dela
Só quero paz e tempo pra pensar
Quero ar puro
Sol fraco batendo na face
Dei o máximo de mim, em vão.
Como o sol dá o máximo de si no fim da tarde,
pra aquecer uma pobre alma solitária.
Uma mistura de medo, insegurança e desprezo
me transformou nesse ser amargurado
Agora busco um resto de esperança onde não há,
tentando encontrar uma saída em um quarto fechado e escuro
O cigarro está no fim
Em breve estarei indefeso
e a seguir poderá ver a marca de minhas lágrimas.

Remorso de um pobre homem



Acabou-se
Colocou a trouxa no dorso e se foi
Mas antes de sumir no morro, deu uma ultima olhada pra trás
O alivio foi imediato
Trancado a chave, ficou o tormento dos últimos dias
Tinha consigo que era hora de seguir em frente,
e assim foi em busca de outro emprego, outra fazenda.
Nos onze anos seguintes, o gesto se repetiu
Ao pitar um cigarrinho de palha, a cabocla aparecia
Chorava de remorso, mas o feito não podia ser desfeito
Para esquecer os problemas e o sentimento de culpa, ia a venda do vilarejo mais próximo
Todo final de semana refazia o trajeto
A cachaça o fazia chorar e dizer bobagens
Domingo, peixe na panela, cheiro de churrasco
La estava ele mais uma vez
Na companhia de mulheres, contou sem pensar a façanha de onze anos atrás
Mataste realmente a cabocla?
Indignado, o dono da venda não quis esperar por provas
Partiu-lhe a cabeça com um porrete diante todos
O amigo da vítima ainda gritou pra parar
Mas o agressor ignorou o pedido
E diante do crânio esfacelado do pobre homem
disse a todos da conversa:
-" Ele não era um assassino,
veio fugido sim por causa de um coração partido,
a façanha mentirosa só contou pra impressionar!"
Para não sujar o nome do amigo, agora levava consigo o grande segredo
Enquanto na casa abandonada, se encontrava em baixo do assoalho,
enrolada em um cobertor, a cabocla esquartejada.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Vazio



A vida nem sempre é justa
As vezes estamos tentando transformá-la em um anuncio de TV
pois hão de concordar que é mais bonito
Uma família feliz, completa.
Mas nem sempre uma família completa é feliz
Eis que surge um motivo para reciclarmos se necessário
A vida às vezes nos leva entes queridos
O vácuo deixado dói
Saber que podiámos ter feito algo de bom enquanto havia tempo também dói
E a certeza de que não podemos fazer nada pra suprir essa falta dói mais ainda.
O adeus é triste
Triste ao ponto de pensarmos em não conseguir suportar essa perda
Sentimos como se fosse parte de nós sendo arrancado
Um espaço vago no sofá
uma cadeira a mais na mesa
Rastros deixados pela pessoa que se foi que não levam a lugar algum
Saber que nunca mais veremos a pessoa que se foi
faz de nós seres egoístasincompreensíveis.
Então nos tentamos enganar para o nosso próprio bem estar
Buscando imaginar que a pessoa que se foi, apenas não está
mantendo tudo em seu lugar, como deixou antes de partir,
partir pra nunca mais voltar

Uma noite de desagrados


Senta-se na mesa ao lado uma bela moça,
não como não olhar,
com tanta beleza e sozinha.
O que de errado?
Percebo que todos ao redor não tiram os olhos de cima da jovem solitária
Ela faz o pedido:
- Dois expressos, por favor!
Estaria esperando alguém?
Parece desamparada e triste
Enquanto bebe um, o outro vai esfriando
Penso até em perguntá-
la o porque de pedir dois se ela está sozinha,
mas seria muita invasão de privacidade.
Então ela se levanta e atordoada quase se esquece de pagar.
Ela vai embora deixando uma xícara cheia e fria.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento