segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Salvando rascunhos (parte 2)


Hoje ao chegar em casa pensei em como minha mãe seria uma poesia.
Talvez uma daquelas tempestuosas e marcantes.
Sentado, escrevendo em meu quarto, escuto o som que vem do bar às 20:40hrs
Ela conversa com um garotinho que passara pelo estabelecimento...
Penso comigo: "Que mulher bondosa."
Não entendo o que o menino diz, mas ouço aquela voz agraciada de criança, e ela por sua vez o chama de menininho.
Penso então em tudo que ela significa pra mim desde que meu pai se foi com seus 43 anos de idade, deixando mulher e filhos.
Eu com doze e meu irmão com oito anos, e minha pobre mãe com dívidas.
Desde então ela toca o barzinho sozinha, e já se foram dezenove anos atrás de um balcão.
Agora eu e meu irmão estamos investindo no comercio pra que se pareça com um daqueles bares de cidade grande, com dezenas de cervejas importadas, música ao vivo e um local agradável pra se aproveitar o happy hour, o nome já é um começo, TIO PATINHAS, Foi dado por meu pai.
Eu dou risada, pois ela gosta do que faz, ela é o meu oposto em quase tudo, mas tem coisas que herdamos que é genético, não adianta tentarmos corrigir, a gente acaba fazendo sem perceber.
As vezes ouço de casa seus gritos de euforia ao ganhar no bilhar, ou então quando ganha no jogo do bicho.
Sua brutalidade involuntária de negação quando contrariada.
Coisas que às vezes eu condeno, mesmo sabendo que um dia eu darei tudo pra ouvir novamente.
Que bom que é ter a mãe viva por perto, mesmo quando ela pega no nosso pé, repete as coisas.
Mesmo quando a gente pensa que a errada na história é ela.
Talvez não seja.
Eu não mostrarei isso a ela, mas ela sabe.
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Diálogo:
Eu reclamando de uma unha encravada e mamãe pedindo pra eu ir na manicure:
Mamãe:
-Vai na manicure.
Eu:
- Pedicure
Mamãe:
- Vai na Cacilda que é sua amiga.
Meu irmão:
- Como ela chama, a manicure?
Eu:
- Cacilda.
Meu irmão:
- Com um nome desses só podia ser o destino dela.

eu ri
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Diálogo:
Coloco uma calça suja sobre a cadeira pra ir trabalhar no dia seguinte. Mamãe grita da sala:
- "OPAAA, TEM CALÇA LIMPA."
Eu:
- Não achei!
Ela:
- Tem sim, tem que ser limpa pra trabalhar na farmácia.
Eu:
- Mas ta velha.
Ela:
- E velha mas é limpa.
Eu:
- Como você?

Todo mundo riu.





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metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento