segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Animais de rua


 À tarde meu irmão me alertou sobre um cãozinho que adentrara nosso quintal e se escondera atrás do tanque
 Eu que havia apenas passado em casa durante o horário de trabalho, simplesmente ignorei. Talvez pela pressa ou por tratar-se de um mero cachorro.
 Às vezes também é mais fácil fingir que não é com você do que ter que encarar algo tão triste, talvez esse seja o real motivo de eu não ter dado a devida importância ao caso de início.
 Porém, ao chegar em casa me deparei com a triste realidade me esperando pra me dar um tapa na cara.
 Recentemente todo o Brasil se comoveu com o cachorro que foi espancado pela enfermeira até a morte, e com o cãozinho enterrado vivo pelo dono.
 Esse caso de hoje não é diferente e nem será o ultimo.
 Eu fico furioso quando ouço falar de maus tratos de animais,
mas quando você se depara frente a frente com algo do tipo, o sentimento vai muito além do que você pode imaginar.
 Uma mistura de raiva com tristeza que chega a embrulhar o estômago.
 Eu só tenho a lamentar por cada ato de crueldade que o ser humano é capaz de cometer.
 Provavelmente ele não comia à semanas.
 Bebeu o leite e deitou-se novamente, seu estado de subnutrição era de dar pena.
 Não havia gordura alguma naquele corpo franzino.
 Um cachorrinho ainda filhote, que teria tudo pra ser o melhor amigo do homem, lá... caído no chão, sem movimento.
 Não havia mais nada a ser feito senão esperar.
 Então, eu e meu irmão o envolvemos em um tecido bem quentinho e o colocamos sobre um papelão dentro de casa.
 A cada toque ou afago o pobre gemia como se um a um seus órgãos fossem entrando em falência.
 Ao chamá-lo para que esboçasse um resquício de vida, ele não respondia.
 Eu podia notar que ainda havia um brilho naquele olhar como se ele quisesse agradecer, porém, diferente de qualquer outro cão saudável que ao escutar o chamado viria em nossa direção pulando e abanando o rabo, esse não se movia.
 E com tempo a temperatura do seu corpo foi caindo e caindo,
podia-se ver que o pobre ainda respirava, porém, com muita dificuldade
 Eu o coloquei enfim dentro de uma caixinha esperando já pelo pior
 No dia seguinte ao voltar do trabalho, a notícia:
"Ele se foi"- disse minha mãe.
 Mas momentos antes de ir trabalhar naquele dia, eu me aproximei e pedi desculpas baixinho por todo o mal que o fizeram, por cada pessoa ruim que deixa sua criação passar fome, por cada homem que maltrata de maneira inimaginável um ser tão frágil.


Desenho de Geraldo Roberto da Silva / esboço de um cachorro de rua feito dia 23/12/2010

Um comentário:

Daniel Savio disse...

Você é uma pessoa boa e nunca deixe te dizerem o contrario...

Obrigado por fazer uma boa ação.

Fique com Deus, menino Rafael Galvão.
Um abraço.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento