quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ilha do Governador




O tempo é mesmo algo assustador
Estou com meus 27anos e correndo contra ele ultimamente
tentando buscar algo que perdi, não sei bem o que é ainda,mas saberei quando encontrar.
Meu maior medo nisso tudo é olhar pra trás e perceber que ele(o tempo) está prestes a me engolir.
Estou lendo um livro de Vinicius de Morais e encontrei algo que gostaria de compartilhar,
chama-se "Ilha do Governador"




Esse ruído dentro do mar invisível são barcos passando
Esse ei-ou que ficou nos meus ouvidos são os pescadores esquecidos
Eles vêm remando sob o peso de grandes mágoas
Vêm de longe e murmurando desaparecem no escuro quieto.
De onde chega essa voz que canta a juventude calma?
De onde sai esse som de piano antigo sonhando a "Berceuse"?
Por que vieram as grandes carroças entornando cal no barro molhado?
Os olhos de Susana eram doces mas Eli tinha seios bonitos
Eu sofria junto de Susana - ela era a contemplação das tardes longas
Eli era o beijo ardente sobre a areia úmida.
Eu me admirava horas e horas no espelho.


Um dia mandei: "Susana, esquece-me, não sou digno de ti - sempre teu…"
Depois, eu e Eli fomos andando… - ela tremia no meu braço
Eu tremia no braço dela, os seios dela tremiam
A noite tremia nos ei-ou dos pescadores…
Meus amigos se chamavam Mário e Quincas, eram humildes, não sabiam
Com eles aprendi a rachar lenha e ir buscar conchas sonoras no mar fundo
Comigo eles aprenderam a conquistar as jovens praianas tímidas e risonhas.
Eu mostrava meus sonetos aos meus amigos - eles mostravam os grandes olhos abertos
E gratos me traziam mangas maduras roubadas nos caminhos.


Um dia eu li Alexandre Dumas e esqueci os meus amigos.
Depois recebi um saco de mangas
Toda a afeição da ausência…


Como não lembrar essas noites cheias de mar batendo?
Como não lembrar Susana e Eli?
Como esquecer os amigos pobres?
Eles são essa memória que é sempre sofrimento
Vêm da noite inquieta que agora me cobre.
São o olhar de Clara e o beijo de Carmem
São os novos amigos, os que roubaram luz e me trouxeram.
Como esquecer isso que foi a primeira angústia
Se o murmúrio do mar está sempre nos meus ouvidos
Se o barco que eu não via é a vida passando
Se o ei-ou dos pescadores é o gemido de angústia de todas as noites?


Rio de Janeiro, 1935
foto de Vinicius de morais

2 comentários:

Rafael Ayala disse...

Esse teu maior medo é o mesmo do meu.
Estou com vinte e cinco para completar vinte e seis.
Carpe diem, relaxe, é o que dizem, mas será que é o que sentem?

Obrigado por compartilhar o Vinícius, sempre nos faz pensar...

Um abraço!
=]

Daniel Savio disse...

Sabe, nem todas as histórias tem grandes fins, mas todas histórias tem pequenas alegrias que no tonaram maiores do que imaginamos...

Só olhe iusto no rosto de quem você ama e vai entender.

Fique com Deus, menino Rafael Galvão.
Um abraço.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento