quarta-feira, 31 de março de 2010

Destino


 Deu-se um clarão e suas vistas escureceram por causa da noite fria sobre sua cabeça.
 Enquanto tentava reconhecer a cidade ao seu redor, sentia a leve garoa cobrir-lhe a face.
 Perambulou pelas ruas que não eram as mesmas.
 Haviam árvores onde antes não existiam, e existiam prédios onde antes haviam árvores.
 Estava em busca de um homem, e perguntando, encontrou o local que procurava.
 Apertou o interfone e se assustou com o imenso cachorro que o recebeu com a cabeça entre as grades
 Afastou-se enquanto as luzes da casa se acendiam ao som dos latidos do animal
 Ficou estático enquanto a maçaneta se movia
 Fixou os olhos naquele que de pijama se assustara ao abrir a porta:
- Meu deus, não pode ser! - disse o homem pasmado ao ver o rapaz no portão.
- Nossa, você deixou crescer a barba.
- Eu não vou deixar você entrar na minha casa!
- O que o tempo fez com você?
 E sem que o velho homem tivesse a oportunidade de responder, uma silhueta feminina despontou na janela
- Quem é ela? - perguntou o rapaz do lado de fora.
- É a mãe dos meus filhos - respondeu o homem ainda assustado em vê-lo.
- Eu não cheguei a conhecê-la.
- Claro que não, olha só a sua idade... como veio parar aqui?
- No futuro, você diz?
- O futuro pra você é o presente pra mim, já o presente pra você, é meu passado.
- É muito estranho ver no que eu vou me tornar
- O que é estranho? não gosta do que vê?
- A aparência mudou um pouquinho, e além disso você não me parece feliz!
- Eu tenho uma casa, um carro, um cachorro, uma família, o que mais eu poderia querer?
- Não era o que você queria, não é o que eu quero, e você sabe disso.
- Não, não era... eu sei, mas aconteceu.
 Nesse instante a esposa que acompanhava de longe os dois conversarem no portão, perguntou ao marido em voz alta quem era o sujeito.
 E ele, com os olhos marejados em ver a decepção do pobre rapaz, respondeu que era um velho amigo.
 Quando se deu conta viu-se rodeado pelos seus três filhos, que curiosos olhavam o rapaz que com o olhar perdido analisava o ambiente.
 O frio fez com que voltassem pra realidade e o pobre do lado de fora deu um passo para trás dizendo:
- Você tem lembranças de ter viajado no tempo?
- Não! - Disse o homem com o máximo de certeza.
- Então o fato de eu ter vindo até aqui não vai mudar nada na minha vida?
- Acho que nada vai mudar!
- Eu vou mudar tudo que não me convém.
- Disso eu tenho lembrança, de tentar mudar as coisas.
- Ta bom, eu tenho que ir agora, você tem belos filhos, é um bom motivo pra eu repensar meus próximos passos.
- Eu sei, boa sorte!
 E la se foi o rapaz sumindo na neblina.

3 comentários:

Anônimo disse...

muito bom.
Isso me lembra um filme exatamente assim, de um cara que viaja no tempo. Chama-se "Te amarei para sempre" (The time traveler's wife) e é muito bom. Veja, se tiver oportunidade, talvez você goste.

Até.

Rafael Ayala disse...

Eu achei o texto todo uma beleza.
Até já pensei em escrever alguma coisa do tipo, mas acho que ainda não dá certo, deixarei para um tempo futuro mesmo.

Esse negócio do tempo mexe muito comigo, passado, presente e futuro, a tríade completa. Tenho vários versos sobre nossa amizade confusa e conflitos constantes.

Bonito texto.
abraço!
=]

Daniel Savio disse...

Mesmo que o passado não tenha condição de ser mudado, o presente pode ser belhor se quisermos...

Fique com Deus, menino Rafael.
Um abraço.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento