domingo, 5 de maio de 2013

Silencioso sorriso

 Eu estava triste, pois meu coração estava partido (havia terminado meu noivado). Um primo, que nunca a visitava, estava lá. Mamãe sentou num sofá do lado de sua cama e eu peguei meu violão. Ela não se lembrava dos nossos nomes, mas não esquecia as canções. Cantamos todas que ela gostava, até que em um momento ela fechou os olhos e se calou. Ficou com um sorriso no rosto, respirando devagar, enquanto nós continuamos a serenata. 
 Após algumas canções, percebemos que ela havia partido.
 O segundo em que se descobre que a pessoa morreu, é um instante cheio de pesares. Fica sempre um saldo deficitário, de que poderíamos ter sido melhores, ama-la mais, cuidar mais de suas manias de idosa, de suas incontinências e de seu peso em nossos ombros, quando íamos leva-la para tomar banho.
 Então as lembranças vêm junto com as lágrimas, e todo o resto se vai, como uma rendição à vida.
 No fim, eu soube que demos à minha avó uma partida que eu desejo para mim.
 Nós com a música.
 Ela, com seu silencioso sorriso!

 Michele Oliveira

2 comentários:

sblogonoff café disse...

Eu não lembrava de ter escrito isso.
Mas enquanto fui lendo, fui pensando: Caramba, foi exatamente assim que aconteceu comigo!!!
Aí vi meu nome!Rsrs!

Já faz 8 anos. Ela foi em 2006, ano da copa.

E ainda hoje, sinto a vovó por perto! De vez em quando ela manda seus sinais e eu sei que os laços que nos unem não se dissipam no tempo e no espaço.

É como um abraço cheio de eternidade, sabe?!

sblogonoff café disse...

Na verdade, vai fazer 7 no mês que vem.

metrópole

metrópole
Estava chovendo lá fora

Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento